Moradora de Londres há 14 anos, a
chef brasileira Luciana Berry decidiu estudar gastronomia inspirada na vontade de mostrar como é divertido cozinhar. Não demorou muito para se matricular no Le Cordon Bleu, onde concluiu o Diplôme de Cuisine, em 2014. Assim que se formou, Luciana foi selecionada para o MasterChef Profissionais de Londres e hoje é mentora das bolsas de estudos do Le Cordon Bleu na capital inglesa.
“Percebi que as pessoas não sabiam colocar ao mesmo tempo sabor e elegância num prato. Era tudo muito sem graça. Os pratos eram lindos, mas faltava o mais importante: sabor, alma e personalidade”, diz.
Qual foi a sensação de ter sido chamada para ser mentora e chef inspiração das bolsas de estudos em Londres? Luciana Berry - Fiquei super orgulhosa! Minha função é ajudar no processo ao longo do curso, motivando e ajudando na parte técnica. Já tinha feito discursos para as cerimônias de graduação por vários anos. Todos os estudantes sempre falavam que eu me expressava com tanta garra e sem medo de enfrentar nada ou alguém que era uma inspiração para eles. Meus discursos sempre foram cheios de emoção. Quando a escola me chamou para ser a mentora, eu fiquei super feliz e sabia que deve ter sido por causa dos meus discursos e carreira que cresceu muito rápido.
Como foi participar do MasterChef Profissionais em Londres? Luciana Berry - Foi maravilhoso! Eu me formei no começo de março de 2014 e me inscrevi no final do mesmo mês. Até meu chef na escola disse que ia ser difícil eu ser selecionada porque eu não tinha experiência em restaurantes de alta gastronomia e o MasterChef Profissionais daqui é super puxado. Fui bem natural nas entrevistas e mostrei nossos ingredientes brasileiros e culinária com técnicas francesas. Ninguém tinha feito isso em Londres, então lancei uma moda. A nossa biodiversidade é tão rica que na minha bancada do MasterChef havia ingredientes que ninguém nunca tinha visto. Foi um diferencial para o programa.
O que você destacaria como diferenciais do Le Cordon Bleu para quem deseja ingressar na profissão?
Luciana Berry - O primeiro diferencial é o nome. A escola é reconhecida mundialmente como umas das melhores e mais antigas e tem um peso muito grande no seu nome. Só em falar que me formei no Le Cordon Bleu as pessoas já me olham diferente. O segundo são as técnicas. Ninguém consegue bater os clássicos, então por estudar a culinária clássica, já mostramos uma formação com uma base extremamente forte.
Como foi estudar no Le Cordon Bleu e o que você destacaria de mais importante no aprendizado? Luciana Berry - Minhas melhores lembranças foram as aulas, como eram dinâmicas, meus professores eram ótimos e tinham um senso de humor muito engraçado. Eram durões, mas todos com muito bom humor. Os chefs Loic Malfait e David Duverger foram os que mais me marcaram. A parte mais importante do aprendizado foi o que as pessoas acham que seja mais irrelevante: organização. No curso básico você tem começar a mudar seus velhos hábitos e ser extremamente organizado. Há dias que tenho três eventos. Se eu não for organizada, não sai nada.
Coloquem tudo o que vocês vão aprender no Le Cordon Bleu em prática. Sejam simples. Tratem bem as pessoas que trabalham com vocês. Pensem rápido. Sejam versáteis. Tentem se adaptar a cada ambiente. Ouçam outros chefs. Perguntem. Tirem dúvidas. Vão pra casa e pratiquem. Errem várias vezes que um dia sai perfeito. E o mais importante de tudo: coloquem sua personalidade nos pratos.
Qual a sua receita brasileira preferida? Algum motivo especial? Luciana Berry - Eu amo moqueca. O motivo é bem simples: é uma comida que tem influências africanas e indígenas. Tenho um sangue de luta que corre nas minhas veias e também sou de Salvador.
Como você vê a evolução da gastronomia brasileira? Luciana Berry - A culinária brasileira passa por uma fase extremamente importante. Mesmo demorando um pouco em relação a outros países, conseguimos acordar a tempo para a revolução gastronômica que estamos enfrentando. Países que souberam reinventar sua culinária, como o Peru e o México, foram além da gastronomia. Eles conseguiram enaltecer sua cultura e transformar seus países em destinos gastronômicos.
A culinária brasileira ainda é desconhecida. As pessoas acham que para cozinhar comida brasileira você tem que ir em loja brasileira para comprar os ingredientes. Eu mostro para as pessoas aqui na Inglaterra que eu compro meus ingredientes brasileiros em lojas da Sri- Lanka, Índia, China, Thailandia, Japão, Portugal, Ghana, Jamaica, ... e por aí vai. Acho jaca, chuchu, tamarindo, mandioca e até rapadura nessas lojas. O maior inimigo da culinária brasileira é o desconhecimento dela. A tendência da culinária mundial é a sustentabilidade e espero que a brasileira abrace também esse tema para assim podermos expandir a nossa gastronomia.
Na sua opinião, o que poderá mudar no mercado brasileiro de gastronomia no Brasil com a abertura do Le Cordon Bleu no Rio de Janeiro e em São Paulo?Luciana Berry - Eu acho que só tem a crescer a gastronomia brasileira. Nós somos um povo muito criativo e quando além da imaginação, temos técnicas clássicas francesas, só podemos lucrar. O rigor e a exigência para a excelência em nossos pratos também irão aumentar e todos ganharemos com isso.
Qual a sua mensagem para os estudantes que estão ingressando agora no Le Cordon Bleu Brasil? Luciana Berry - Minha mensagem é que não desistam! Sejam fiéis e honestos com vocês mesmos. Sejam persistentes. Nessa área de hospitalidade tem muitas portas que se fecham e muita concorrência com pessoas querendo te derrubar. Coloquem tudo o que vocês vão aprender no Le Cordon Bleu em prática. Sejam simples. Tratem bem as pessoas que trabalham com vocês. Pensem rápido. Sejam versáteis. Tentem se adaptar a cada ambiente. Ouçam outros chefs. Perguntem. Tirem dúvidas. Vão pra casa e pratiquem. Errem várias vezes que um dia sai perfeito. E o mais importante de tudo: coloquem sua personalidade nos pratos. Sejam diferentes. Tudo que é igual aos outros é sem graça. Não duvidem do seu potencial. O Le Cordon Bleu irá dar um enorme
up na carreira de vocês e é preciso saber aproveitar ao máximo.